O grande dilema das recessões é que o anúncio formal chega tarde demais. Quando os economistas decretam oficialmente uma recessão — geralmente após dois trimestres consecutivos de queda no PIB —, o mercado de ações já digeriu o golpe. Os preços dos ativos já despencaram, e o pior já pode ter passado.

Ficar esperando a confirmação é como chegar ao campo de batalha depois que a guerra acabou. Por isso, a chave está em observar os indicadores que sinalizam o início de uma recessão, permitindo prever o evento. Caso contrário, quando a recessão for "descoberta", estaremos no olho do furacão — na fase de capitulação, com o mercado atingindo o fundo e o desespero tomando conta.

Dois indicadores se destacam como os mais poderosos para antecipar recessões: a inversão da curva de juros e a Regra de Sahm.

FATO 4: Quando a Recessão é decretada, ela provavelmente já está próxima do seu final.

A recessão formal é um dado atrasado, mas os indicadores certos — como a inversão da curva de juros e a Regra de Sahm — são como bússolas. Eles não são infalíveis nem precisos no timing, mas dão a chance de se posicionar antes da capitulação. Quando todos estiverem vendendo em desespero, você já estará planejando a retomada.

1. Inversão da Curva de Juros

A curva de juros é uma das ferramentas mais confiáveis da macroeconomia, um termômetro que reflete as expectativas do mercado sobre o futuro da economia. Para financiar seus gastos, governos emitem títulos de dívida, pagando juros a quem os compra. Esses títulos variam em prazos, de 1 mês a 30 anos.

Quando o mercado está ‘’normal’’ a regra é claras: quanto maior o prazo, maior o rendimento. Por quê? Porque títulos de curto prazo são vistos como mais seguros (menos tempo para algo dar errado), enquanto os de longo prazo exigem uma compensação maior pelo risco — seja pela inflação que pode corroer o retorno, seja pela incerteza sobre o futuro distante.

Em resumo: o governo pago mais para você travar seu dinheiro por 10 ou 30 anos do que por 2 anos.

Dessa forma, normalmente a curva de juros é ascendente: os títulos de 10 anos (ex.: Treasury Note de 10 anos) rendem mais que os de 2 anos ou 3 meses. Mas, em certos momentos, esse padrão vira de cabeça para baixo. A inversão da curva de juros ocorre quando os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de curto prazo (ex.: 2 anos) superam os de longo prazo (ex.: 10 anos). É um sinal de que os investidores estão pessimistas sobre o futuro próximo, preferindo travar seu dinheiro em apostas seguras de longo prazo.

Fonte: https://fred.stlouisfed.org/series/T10Y3M

Fonte: https://fred.stlouisfed.org/series/T10Y3M

O Momento Atual: a mais longa inversão da curva de juros da história

Quando considerando a relação da curva de juros de 10 anos com a de 2 anos ou de 10 anos com 3 meses, em ambos os casos, temos a inversão mais longa da história moderna e uma das mais profundas. Enquanto grande parte das inversões duram entre 10 a 15 meses, a inversão atual superou os 24 meses. A inversão de 1929 atingiu -2% (10 anos vs. 3 meses), seguida pela queda de 89% no Dow Jones. Em 2022-2025, a inversão chegou a 1,88%, um nível raro e extremamente preocupante.

A intensidade da inversão está relacionada com um dos aumentos mais drásticos na taxa de juros, para contem a inflação pós crise da Covid-19. Em 2023, o FED elevou a taxa básica de 0,25% para 5,5% em apenas 18 meses, a alta mais rápida em 40 anos.

FATO 5: A Curva Não Mente (Quase Nunca)

A inversão da curva de juros é como um oráculo da macroeconomia: não diz exatamente quando a recessão vem, mas avisa que ela está a caminho. Com um histórico de quase 100% de acertos desde 1950 e uma inversão atual que ecoa 1929, ignorá-la é uma aposta difícil.

2. Regra de Sahm